Há anos, a inovação e a transformação digital vem sendo colocados como fatores decisivos para a sobrevivência das empresas no nosso tempo. Nos últimos 10 anos, o número de startups no Brasil cresceu 20 vezes, com um grande salto em 2018. Grandes empresas passaram a não só inovar internamente, mas se relacionar com esse ecossistema. Vimos o surgimento de hubs de inovação, plataformas digitais e co-workings patrocinados pelas grandes corporações.
Recentemente, tivemos uma mudança: apesar de um conceito e prática com décadas de existência, nos últimos dois anos a sustentabilidade passou a ser reconhecida como fator chave para a sobrevivência das empresas.
Porém, muitos ainda não perceberam o valor em incorporar a sustentabilidade nos processos de inovação. Em muitas empresas ainda existe uma desconexão entre os compromissos de sustentabilidade com a criação de novos negócios e produtos.
Imagine, por exemplo, uma área de inovação trabalhando no lançamento de novos produtos em novas embalagens, enquanto a área de sustentabilidade está com o desafio de trabalhar em programas de logística reversa para as embalagens atuais da marca. Não faria sentido as duas áreas conceberem juntas um produto em embalagens mais sustentáveis, feitas com outros tipos de materiais, biodegradáveis ou de mais fácil reciclagem, por exemplo?
É do potencial desta conexão que surge o termo Innovability, ou Inovabilidade. A palavra tangibiliza a crença de que a inovação e a sustentabilidade devem ser inseparáveis, não somente como áreas de negócio, mas como pilares estratégicos para toda a empresa.
Em uma publicação da London School of Economics (LSE), os autores demonstram duas razões pelas quais estas agendas ainda estão desconectadas. A primeira é a falta de processos que realmente incluam a sustentabilidade na jornada de inovação desde os estágios iniciais. A sustentabilidade deve ser inserida desde os primeiros passos de uma inovação.
A segunda razão é o gap entre as áreas de negócio e a área de sustentabilidade. Isso é reflexo de uma estrutura organizacional há muito tempo já estabelecida, com os dois times trabalhando por objetivos e metas muito distintas. É tempo de reestruturar as organizações para se adaptarem às novas demandas.
Leia mais: Como empresas podem unir a geração de impacto positivo à estratégia de inovação e novos negócios
A inovação aberta como aliada das metas de sustentabilidade e práticas ESG das grandes empresas
O uso do termo Innovability não é sobre criar mais um conceito dentre tantos que já existem hoje, como ESG, valor compartilhado, Empresas B, capitalismo consciente… Mas sim sobre consolidar essa visão de que os dois processos são indissociáveis.
A Inovabilidade indica a capacidade de uma organização de inovar de forma sustentável e de alavancar a sustentabilidade como forma de inovação, novos negócios e diferenciação.
O Quintessa acredita muito nesta visão estratégica, de ter a sustentabilidade como lente para enxergar novos negócios – bem como entender que processos de inovação, como a inovação aberta, podem ser muito eficazes para atingir os objetivos de sustentabilidade.
Aqui no Brasil, além da nossa menção ao conceito em nossa publicação Guia para Inovar com Impacto, a referência que temos visto utilizando o conceito é Ricardo Voltolini, CEO da Ideia Sustentável, por quem conhecemos o termo.
Na prática
Uma empresa que se destaca e pauta este tema é a Enel, que criou um departamento de Innovability dentro da empresa, tornando as duas áreas indissociáveis. Desde 2014 a Enel faz da inovação e sustentabilidade seus pilares estratégicos por meio da inovação aberta, trazendo soluções de startups, universidades, pesquisadores, fornecedores, colaboradores e outras empresas.
“Nós trabalhamos no innovability, um termo que combina os dois conceitos, e não somente em palavras, porque acreditamos que é impossível separá-los. Não podemos pensar em inovação sem ser sustentável, e vice-versa.” Ernesto Ciorra, Chief Innovability Officer da Enel.
A iniciativa chamada de “Open Innovability” já envolveu mais de 100 países, com hubs em 32 deles, e 7 mil soluções propostas.
Outras empresas que trabalham o conceito internamente são a EDP, também do ramo de energia, na crença de que “os desafios de mercado devem ser encarados sob uma perspectiva de reinvenção completa” e a Suzano, que se pauta na Inovabilidade para “pensar fora da caixa e enxergar longe para lidar com os desafios do século 21”.
Sem a utilização do conceito, mas enxergando as ações na prática, vale a menção à Vedacit, que unifica sob a liderança de Luis Guggenberger as áreas de Sustentabilidade, Inovação e Responsabilidade Social (Instituto), e o Braskem Labs, programa de inovação aberta da Braskem, que é originado e é até hoje gerido pela área de Desenvolvimento Sustentável.
Leia também: Entrevista com Luis Guggenberger no Diálogos Quintessa
Em tempos de grandes e rápidas mudanças, a inovação e a sustentabilidade passam a ser prioridade para qualquer empresa que deseja garantir sua relevância em um futuro próximo e devem andar juntas.
No Quintessa, acreditamos que a inovação é o caminho para alcançar soluções escaláveis para os desafios de sustentabilidade e ESG das grandes empresas, e que desafios de sustentabilidade podem ser oportunidades de inovação e diferenciação para as empresas.
As áreas e as pessoas já existem, a mudança é sobre introduzir uma nova lente e reorganizar os processos e estruturas para promover a Inovabilidade.
Este tema faz parte do Guia para Inovar com Impacto, publicação inédita do Quintessa que apresenta um passo a passo para criar programas de inovação aberta que gerem valor para o negócio e impacto socioambiental positivo. Acesse o Guia completo aqui!
Sugestões de leitura:
How to embed sustainability into the innovation funnel – LSE Business Review