Para quem acompanha o nosso trabalho aqui no Quintessa, já sabe que trazemos a inovação aberta como caminho para as empresas desenvolverem novos negócios, cortarem custos e se diferenciarem no mercado, bem como gerarem impacto social e ambiental positivo. Se conectar com startups de impacto faz sentido para todo tipo de empresa e também para institutos e fundações – mas será que todas estão no momento certo de realizar este tipo de iniciativa? Ou melhor, existe um momento ideal para começar a executar a inovação aberta com impacto? A empresa precisa estar ‘pronta’?
Nossa resposta é que não. As iniciativas de inovação aberta fazem parte da jornada da empresa em direção a geração de impacto positivo e também do processo de amadurecimento da cultura da empresa. Mas é importante ressaltar que realizar uma iniciativa de conexão com startups de impacto não deve ser o primeiro passo da empresa nessa jornada, mas sim deve ser parte da estratégia maior, que precisa estar bem definida antes de começar a buscar soluções no mercado. É sobre isso que abordaremos neste texto.
Não é uma linha de chegada
Antes de tudo, é preciso entender que trazer soluções de startups para a empresa não deve ser visto como o ‘objetivo final’ ou a linha de chegada. Se motivar pelo reconhecimento do mercado em ser vista como uma empresa inovadora e ter pressa para realizar o programa pode levar a decisões equivocadas e poucos resultados.
Além disso, é preciso pensar no que as startups vão ganhar na relação com você. Ter um programa “só por ter” provavelmente vai te levar a um lugar em que poucas startups de qualidade vão se engajar, e sem startups de qualidade, o programa não tem valor e provavelmente será descontinuado.
Você precisa ter clareza das motivações para fazer o programa de inovação com impacto, e isso precisa ter lastro estratégico na empresa.
Definir a estratégia da empresa
O ponto de partida para conceber um programa de inovação aberta sempre deve ser a estratégia da empresa: o que está buscando fazer, que metas quer alcançar ou quais são os direcionamentos de novos produtos/mercados que a empresa quer entrar. Entendemos que a iniciativa de inovação aberta não é “algo a mais”, mas sim uma nova forma de alcançar aquilo que já é prioridade da empresa.
Portanto, é importante que a empresa já tenha definido suas metas de impacto social/ambiental e prazos de atingimento, e tenha clareza de quais são os principais desafios da empresa, tanto nos aspectos de negócio, quanto nos aspectos sociais e ambientais que se deseja trabalhar. Só assim é possível encontrar soluções de startups no mercado que gerem valor para a empresa.
Antes de definir o tipo de solução que precisa ser encontrada, vale a empresa ter clareza de quais tecnologias e soluções já foram testadas (e os aprendizados sobre o que deu certo e errado) e quais soluções já estão sendo desenvolvidas internamente por P&D.
Algumas perguntas que costumamos fazer antes de criar uma iniciativa são:
- Qual o foco da empresa: propósito, missão e valores?
- Quais são os direcionamentos de negócio para o longo prazo: metas, desafios e oportunidades que enxergam, como novos mercados que desejam entrar e evoluções do modelo de negócio?
- Qual a estratégia de sustentabilidade da empresa: matriz de materialidade, ODS que orientam a estratégia, se já respondeu assessments como o do Sistema B, etc.?
- Qual a estratégia de responsabilidade social e filantropia corporativa – se existe instituto ou fundação empresarial?
- Quais são as causas nas quais a marca se posiciona?
- Quais são os desafios operacionais da empresa e os desejos de melhoria?
- A empresa já possui outras iniciativas de inovação aberta, intraempreendedorismo, voluntariado, etc.?
A empresa não precisa ter todas essas respostas, mas quanto mais informações, dados e análises a empresa tiver, mais consistente será a estratégia e mais assertiva será a busca de soluções para inovação aberta.
Um olhar externo, com conhecimento específico em inovação e sustentabilidade, pode ser de grande valia nessa etapa, para apoiar a empresa a buscar as informações necessárias. Aqui no Quintessa apoiamos as empresas nesta etapa, e a valorizamos bastante, pois nos ajuda muito na execução do programa depois, já iniciando a parceria bem alinhados sobre a estratégia da empresa e objetivo daquela iniciativa.
Além disso, é importante que neste alinhamento estratégico todas as áreas da empresa estejam bem contempladas, para depois, durante o programa, conseguir um engajamento das áreas para se envolverem e testarem as soluções.
As iniciativas de inovação aberta têm a ver com essa nova forma de pensar, e a partir dela as práticas e programas vão evoluindo e sendo refinados. Um exemplo é o Braskem Labs, que em 2022 inicia sua oitava edição – e o quarto ano realizado pelo Quintessa. Desde que o programa surgiu, mudaram-se formatos, metodologias, benefícios para os empreendedores, áreas e pessoas envolvidas, mas o programa só cresceu e se fortaleceu por conta do alinhamento estratégico muito bem amarrado desde o início, em fomentar e se conectar com soluções inovadoras e sustentáveis na cadeia da química e do plástico.
Orçamento para inovação aberta
É comum vermos as lideranças presas em uma questão de primeiro precisar mostrar resultado para conseguir orçamento para o programa, mas para colher resultado é preciso agir e isso requer investimento. Portanto, uma boa prática é ter um orçamento mínimo planejado para implementar iniciativas de experimentação com as startups e gerar dados que provem o valor desse relacionamento.
Conseguir aliados internos também pode fazer toda a diferença. Tradicionalmente, áreas de CVC têm interesse que as áreas de inovação das empresas se desenvolvam. Outro caminho que tem sido frutífero, especialmente em temas ligados à sustentabilidade, é o de engajar áreas financeiras e criar Sustainability Linked Bonds, que depois vão demandar que se invista em inovação para atingi-los.
Os tipos de programa exigem competências diferentes
A depender do tipo de programa desenhado – aceleração, pilotos ou outro – o preparo exigido tem algumas variações, mas a estratégia é sempre uma premissa.
Leia mais: Por que fazer um programa de inovação aberta e quais os formatos possíveis?
Ao fazer um programa de aceleração, por exemplo, precisamos de um direcional estratégico que contemple principalmente quais são os desafios da empresa para buscarmos soluções no mercado.
A aceleração é um espaço para conhecer diferentes iniciativas que podem gerar negócios para diferentes áreas da empresa. Porém, tem um peso menor na necessidade de se fazer negócios concretos com as startups, e por isso pode ser um bom caminho para quem ainda está começando e quer avaliar as opções que existem no mercado, sem necessariamente precisar se comprometer. Também é um ambiente melhor para desenvolver a equipe da empresa em mentorias e competências de inovação e empreendedorismo.
Já um programa de implementação de pilotos exige não só um orçamento para contratar de fato as soluções das startups, mas uma definição muito mais específica do tipo de desafio que está buscando a solução, pois ela já será implementada diretamente.
Além disso, o engajamento das áreas que irão receber as soluções também é fundamental, bem como uma estrutura mínima capaz de receber a solução. Por exemplo, se os processos burocráticos de suprimentos e contratação estiverem pouco adaptados para receber startups, pode fazer sentido começar por um programa de aceleração criando um espaço de ambientação para os executivos, tangibilizando como trabalhar com uma startup, e depois fazer os pilotos.
Cultura da empresa
Muitas vezes nos perguntam se a empresa precisa ter uma cultura consolidada de inovação ou sustentabilidade para o êxito do programa. A mudança cultural é importante, mas a cultura está sempre em construção, e não ‘pronta’, então realizar iniciativas de inovação e impacto positivo também se torna um meio de apoiar e amadurecer a cultura.
Os programas de inovação aberta são excelentes espaços de aproximação dos colaboradores e lideranças com a inovação e sustentabilidade na prática, interagindo com empreendedores das startups e conhecendo novas formas de pensar e operar no dia-a-dia. Falamos mais sobre isso neste texto.
Quanto mais a empresa estiver aberta a se relacionar com inovações externas, maior fluidez terá o programa. Isso não é algo que acontece da noite para o dia, e muitas áreas vão precisar ver resultados concretos antes de se abrirem – também por isso a importância do programa estar bem amarrado com a estratégia da empresa.
Ainda, a iniciativa ajuda a empresa a aprender a trabalhar junto a startups, no sentido de processos internos. Por exemplo, pode ser necessário adaptar as políticas do Jurídico (acostumado a exigir exclusividade e direito de propriedade intelectual) e de Suprimentos (acostumado a espremer preço, exigir longos prazos para pagamento, exigir documentos que a pequena empresa não possui), que podem mais prejudicar a startup do que ajudá-la a crescer. Essas adaptações de processos também são meios de apoiar a mudança de cultura e forma de trabalho.
É importante começar
Para concluir, é válido dizer que se a empresa já possui um programa de inovação aberta com startups ‘tradicionais’, para desafios não relacionados à impacto positivo e sustentabilidade, não necessariamente está pronta para um programa com esse recorte. Pode ser que a questão cultural já esteja mais avançada, mas como falamos no início, o mais importante são as definições estratégicas no que tange a sustentabilidade, ESG e impacto positivo para buscar soluções assertivas.
A inovação aberta é um caminho que naturalmente apresentará desafios e desconfortos, e que ao mesmo tempo tem um potencial enorme para impulsionar a empresa em direção ao seu futuro. Costumamos dizer que não há uma iniciativa “certa” ou “errada”. Mas há iniciativas consistentes e inconsistentes, assertivas ou não assertivas – tanto do lado da empresa, como do lado da proposta de valor oferecida para os empreendedores, por isso é tão importante saber o porquê a iniciativa existe, passando pelos aspectos mencionados aqui no texto, e começar o quanto antes para evoluir no caminho.
Este tema faz parte do Guia para Inovar com Impacto, publicação inédita do Quintessa que apresenta um passo a passo para criar programas de inovação aberta que gerem valor para o negócio e impacto socioambiental positivo. Acesse o Guia completo aqui!
Para entender melhor como o Quintessa pode te ajudar na criação de uma iniciativa de inovação aberta com impacto positivo, entre em contato conosco: [email protected]