Texto publicado originalmente no LinkedIn em 27/01/2020
O texto de hoje tem o intuito de contar como startups de impacto podem gerar valor para uma grande empresa. Compartilho aqui os 5 elementos do case do Braskem Labs, parceiro do Quintessa, que enxergo como características exemplares e que podem ser replicáveis para outras empresas:
1. Clareza de objetivo e programas segmentados por foco
Ouço muitos executivos de empresas dizendo “quero inovar”, “quero conectar minha marca à temática de sustentabilidade ou impacto socioambiental”, ou “quero transformar a cultura da empresa para que ela seja mais inovadora”. Este é um ótimo ponto de partida, porém é apenas um ponto de partida.
Para que um programa de relacionamento com startups de impacto dê certo é essencial que a empresa tenha clareza do seu objetivo com ele:
- “Para quê” se deseja criar a iniciativa? O objetivo prioritário é entrar em um novo mercado? Oxigenar a empresa com novas tendências do setor? Desenvolver novos produtos ou serviços? Se relacionar de uma nova forma com seus clientes? Tornar a cadeia de valor mais sustentável? Desenvolver seus colaboradores? Cumprir com a legislação? Se conectar a uma causa relacionada à marca?
- De qual forma deseja se relacionar com as startups? Investir? Contratar como fornecedora? Ser parceira de negócio oferecendo soluções em conjunto? Apoiar seu desenvolvimento? Apenas conhecê-las?
- Qual prazo têm disponível para atingir este objetivo? É algo para curto/médio ou longo prazo? Qual a abertura à tomada de risco que a empresa se permite ter hoje?
É claro que os programas vão evoluir e amadurecer com o tempo, mas esta clareza inicial é essencial para que haja mais eficiência e alinhamento de expectativas ao lançar a ação.
Por exemplo, se o foco é implementar soluções e gerar resultados de curto/médio prazo, faz mais sentido pensar em se relacionar com startups de estágios mais maduros do que de estágios ainda muito iniciais, que tipicamente representariam um maior risco.
No caso do Braskem Labs, a plataforma possui três programas distintos, segmentados por respostas também distintas às perguntas anteriores:
- O Scale tem seu recorte em startups em fase de tração e escala e é focado em apoiar o desenvolvimento delas por meio da aceleração, bem como gerar novos negócios para a Braskem e seus clientes, com executivos envolvidos como mentores;
- O Ignition apoia startups em fase de validação, tendo a perspectiva de resultados mais a longo prazo, e também é focado no desenvolvimento das startups por meio da aceleração, com executivos envolvidos como mentores;
- O Challenge é focado em soluções para processos internos da Braskem, sejam eles industriais ou corporativos, trabalhando com soluções que já tragam essa capacidade de implementação.
Essa separação dos programas é essencial tanto para alinhar as expectativas com os empreendedores que entram nos programas, bem como alinhar as expectativas do resultado que cada programa deverá trazer para a companhia.
Dado que o tempo dos empreendedores é sempre escasso e hoje existe uma pluralidade de programas de aceleração no mercado, é essencial que esteja claro para eles a proposta de valor da iniciativa, o que deverão dedicar para ela e o que poderão esperar em troca como benefício.
2. Evolução com o tempo
Nós do Quintessa entramos para executar a quinta edição do programa do Braskem Labs, em 2019, dando continuidade ao Scale e inaugurando o Ignition. Entramos no refinamento do desenho do programa e proposta de valor para os empreendedores, definição do posicionamento de marca perante eles, busca e seleção de negócios, bem como a execução do programa em si, promovendo os encontros coletivos e seus conteúdos, e também o suporte individualizado e mentoria personalizada para cada negócio participante.
Já estamos vendo mudanças para a edição de 2020, mas vale retomar o histórico para terem uma visão mais ampla de como a iniciativa evoluiu – e de como entendemos que sejam um bom exemplo de como esse movimento é natural.
A primeira edição aconteceu em 2015, como uma premiação para reconhecer ideias de negócios que utilizassem plástico e/ou química para gerar impacto social ou ambiental.
Percebendo que não adiantava apenas reconhecer, mas era necessário também apoiar o desenvolvimento destes negócios, bem como focar em quem já estivesse operando e gerando algum tipo de impacto, criou-se o Scale em 2016.
Percebendo que alguns negócios não precisavam de ajuda para se desenvolverem, mas já estavam prontos para fazerem negócio com a Braskem e implementarem suas soluções na operação da empresa, criou-se o Challenge em 2017.
Percebendo que recebiam inscrições de soluções muito inovadoras e com alto potencial, mas ainda muito iniciais para entrarem no Scale, criou-se o Ignition em 2019.
Com isso, até hoje, a Braskem já trabalhou com mais de 100 startups em seus programas.
Não acreditamos que exista uma premissa fixa de um tipo programa que seja certo ou errado, mas existe sim uma análise de se o programa é adequado ao objetivo da empresa e se sua proposta de valor faz sentido aos empreendedores com os quais a empresa deseja se relacionar.
O legal deste exemplo é que, a partir da vivência do programa inicial, a Braskem pôde aprender e entender mais sobre o universo das startups e, com isso, ir refinando seus objetivos e criando iniciativas segmentadas. Antes de criar algo gigante e difícil de tirar do papel, vale começar com algo viável para que, a partir dos seus aprendizados e comprovação de resultados para a empresa, se possa evoluir para algo mais completo e complexo. Além disso, é natural que a resposta do “para quê a iniciativa existe”, que falamos no início do texto, possa se modificar e também evoluir com o tempo.
3. Impacto positivo + negócios gerados para a empresa
Um outro aspecto que acho muito legal ver acontecendo nas empresas (e do qual o Braskem Labs é também um exemplo) é o programa nascer dentro da área de Desenvolvimento Sustentável, com o foco de concretizar os objetivos da área por meio da relação com startups de impacto, e com o tempo ir se provando e ganhando importância interna – e também ir se conectando mais às áreas de negócio da empresa.
Tangibilizando, ano passado, na banca final de seleção (Pitch Day), participaram executivos das áreas de Inovação & Tecnologia, Sustentabilidade, Desenvolvimento de Mercado, bem como clientes da Braskem se engajaram ao longo de um dia inteiro para assistirem aos pitchs das startups – não interessados apenas no impacto que elas geravam, mas muito interessados também nas inovações que traziam para seus negócios. Por exemplo, soluções para água e saneamento, produtos para agricultura, soluções para logística reversa e reciclagem de plástico, entre tantas outras soluções (você pode conhecer as participantes do Scale e do Ignition ao final do texto).
Para 2020, contamos com mais uma evolução, buscando ativamente negócios que atuam em áreas chave para a Braskem: agronegócio, embalagens, mobilidade e transporte, saúde, construção e moradia, biotecnologia e economia circular.
Vemos como muito positiva esta conexão entre os eixos de Novos Negócios/Inovação e de Sustentabilidade/Impacto.
Enquanto sociedade, ainda estamos muito acostumados a separar eles e pensar que é “algo OU algo”, não considerando que possa existir o “E”.
Nossa visão positiva vem da crença de que quanto mais conectadas às pautas de negócio, as pautas de impacto terão maior possibilidade de crescer e se perenizar dentro das empresas, ganhando o valor estratégico que merecem.
4. Compromisso verdadeiro e respeito aos empreendedores
Um outro aprendizado é ser fiel ao que foi prometido como proposta de valor aos empreendedores e não apenas lançar a iniciativa, mas se estruturar para que depois ela aconteça de fato.
Sabemos que entre o “feito” e o “perfeito” há uma grande gama de possibilidades de operar, mas diferente de exigir o “ideal”, acreditamos que seja necessário garantir uma mínima estrutura para que a experiência dos empreendedores não seja frustrante.
Por exemplo, a empresa prometer investimento sem ter a garantia do orçamento, ou a estrutura jurídica, ou uma dedicada para que isso possa acontecer. Ou que a promessa seja a contratação da solução, mas tendo ainda processos de contratação extremamente engessados, ou um fluxo de pagamento longo demais, ou falta de orçamento para pagar pela solução. Assim, vale calibrar para que a proposta de valor prometida e a estrutura provida sejam consistentes entre si.
No caso do Braskem Labs, há o envolvimento direto do diretor, da gerente e de uma analista da área, que garantem sua coordenação e articulação interna, bem como existe um comitê formado por executivos de outras áreas que se reúne mensalmente para tomar decisões estratégicas e garantir que o programa esteja bem posicionado frente às prioridades da empresa.
Em ambos os programas de aceleração, os empreendedores têm mentores “padrinhos” (ou mentoras “madrinhas”) que além de aconselhamento estratégico funcionam como um “guia” para eles dentro da Braskem, abrindo portas e articulando conexões. Essa clareza de interface dentro da empresa facilita muito a experiência dos empreendedores. Um aprendizado neste sentido é a importância de que esta pessoa, além de ter capacidade de articulação/influência internamente, esteja de fato engajada com o programa e, às vezes até, tenha interesse/incentivos para que a relação com a startup dê certo – sabemos que o dia a dia é sempre corrido, mas a dedicação precisa manter-se constante.
Existem indicadores e metas que são monitorados durante e após o programa sob os mais diferentes aspectos, inclusive a quantidade de conexões com potenciais clientes ou parceiros de negócio feitas para cada startup.
Por último, o programa respeita os direitos de propriedade intelectual dos empreendedores e tem termos de sigilo, sem estabelecer uma relação predatória com as startups.
5. Relação ganha-ganha
Enquanto as startups ganham, em um programa gratuito: conteúdos e metodologias dos nossos 10 anos de experiência do Quintessa, sessões de mentoria para decisões estratégicas com executivos da Braskem, apoio personalizado e individualizado dos nossos gestores, conexões com potenciais clientes e parceiros estratégicos, conexão com outros empreendedores, além de acessarem o mercado com o endosso da Braskem e terem a oportunidade de fazerem negócios juntos…
A Braskem ganha também: acesso e deal flow a novas tecnologias e soluções inovadoras, desenvolvimento de seus líderes e cultura organizacional, posicionamento e reputação de marca, e novas formas de relacionamento com seus clientes – além de colocar em prática seu propósito de “melhorar a vida das pessoas criando as soluções sustentáveis da química e do plástico e a nossa visão estratégica é ser a líder mundial da química sustentável”.
A estrada é longa, mas pode ser iniciada hoje
Aqui no Quintessa acreditamos que as empresas podem ser relevantes para superar os desafios sociais e ambientais centrais do nosso país. No entanto, sabemos que a estrada é longa e que muitas delas, além de não gerarem impacto positivo, geram impacto negativo.
Sabemos também que a grande maioria possui seu “teto de vidro” e incoerências com o objetivo de gerar impacto positivo. Assim, seguimos na crença de que um movimento de transição deve ser iniciado e que, tendo a coerência em sua linha de horizonte, durante esta transição a empresa terá que lidar com as suas incoerências, mantendo o foco em concretizar o que deseja ser e não o que foi até agora.
Em tempos do plástico sendo visto como grande vilão e inimigo, por que não apenas admitirmos seus riscos e prejuízos, mas também olharmos para soluções que promovem a sua reciclagem ou soluções para as quais a presença do plástico é imprescindível para causar impacto socioambiental positivo? É através de iniciativas como o Braskem Labs que a Braskem está construindo seu futuro mais sustentável.
Quer saber como unir inovação e impacto socioambiental?
Se você trabalha em uma grande empresa e quer entender mais sobre como se conectar ao universo de startups de impacto, conheça nossa frente de Programas em Parceria e nos escreva.
Sabemos que este é um tema novo, mas também sabemos que é imprescindível, como falou recentemente o CEO da BlackRock, gestora de mais de 6 trilhões de dólares. Assim, temos ajudado cada empresa a entender qual tipo de programa pode ser mais consistente com a sua estratégia e atuação.
Conto com você para concretizarmos mais exemplos de que gerar negócio e gerar impacto positivo podem andar juntos!
E você, quais aprendizados já teve com suas experiências em programas de inovação aberta?