Reflexões sobre caminhos para o amadurecimento do ecossistema
No final de 2019 os investimentos de impacto no Brasil somavam US$ 785 milhões, mais que o dobro de dois anos antes (US$ 343 milhões). Com a ascensão do ESG e o olhar dos investidores para o retorno além apenas do financeiro, a tendência é que ainda mais investimento de impacto seja direcionado para o setor (entenda neste outro texto a diferença de investimentos de impacto e ESG).
A dúvida que vem então é: teremos um volume de negócios maduros suficiente para alocar esse capital?
No Quintessa, temos uma base de mais de 4 mil negócios de impacto e vemos uma parcela relevante que chega até nós ainda não é elegível a entrar em nossos programas de aceleração por estar em um estágio muito inicial, sem conseguir especificar suas hipóteses de modelo de negócio (não é por acaso que nossos primeiros conteúdos foram direcionados para empreendedores em estágio de validação).
O 3º Mapa de Negócios de Impacto Social+Ambiental, realizado pela Pipe Labo em 2021, mostra que 69% dos negócios mapeados faturam menos de R$ 100 mil por ano ou ainda não faturam.
Outro estudo, também realizado pela Pipe, o Scoring de Impacto, identificou que um dos principais desafios para os investidores de impacto é a “falta de oportunidade de investimento de alta qualidade com bons históricos (track record)” — o que reforça o que enxergamos na prática.
Para deixar claro: estou falando aqui de volume. Não deixemos isso ofuscar a realidade de que sim, existem negócios de impacto maduros, qualificados e que estão acessando capital relevante. Alguns exemplos de Empreendedores Quintessa que podem ser mencionados publicamente: Courri adquirida pela B2W, Boomera investida pela Ambipar, Vitalk com captação de quase R$ 10Mi, Hand Talk com captação de 2.5Mi, Emoving sendo investida pela Movida, entre outros (conheça aqui).
Trabalhando com as grandes empresas em programas de inovação aberta, na nossa frente de Programas em Parceria, vemos poucos programas direcionados a negócios de estágio de maturidade inicial, dado que isso pode representar risco (no Guia para Inovar com Impacto exploramos com mais detalhes esse elemento).
Assim, se temos capital voltado para investimentos de impacto aguardando negócios maduros e temos negócios iniciais precisando de suporte para amadurecerem fica a pergunta: qual ator deve investir no desenvolvimento de um pipeline de negócios de impacto maduro? Qual tipo de capital pode destravar essa equação, viabilizando este suporte?
No mundo empresarial, falamos sobre o desenvolvimento da cadeia de valor, da remuneração justa de todos os elos da cadeia — e se aplicássemos esse olhar para este assunto? Quem desenvolve a cadeia de valor para o mercado de venture capital brasileiro focado em investimento de impacto?
(Vale mencionar que dou aqui o foco no mercado de investimento e negócios de impacto, mas sabemos que é um desafio muito mais macro, também presente quando falamos de empreendedorismo no Brasil de forma mais ampla).
Este é um trecho da coluna de Anna de Souza Aranha, diretora do Quintessa, no Um Só Planeta.