A bioeconomia é assunto do dia no debate sobre sustentabilidade e mitigação das mudanças climáticas. O Brasil deu a largada na discussão para regulamentação da atividade: recentemente foi criada a Estratégia Nacional de Bioeconomia, iniciativa do governo federal para implementação de políticas públicas para o desenvolvimento do setor. No último G-20, realizado em nov/2024 no Rio de Janeiro, líderes globais reconheceram pela primeira vez a importância desse paradigma produtivo para o crescimento inclusivo e definiram os princípios norteadores do setor em um documento que já é considerado histórico.
Motivos não faltam para celebrar: atualmente, a bioeconomia é apontada como uma das soluções às crises climática e ambiental, e peça-chave para uma economia de baixo carbono. Estima-se que a atividade tenha potencial para chegar a 2050 movimentando US$30 trilhões em negócios em todo o planeta. Se considerado apenas o Brasil, a implementação de tecnologias ligadas à bioeconomia tem potencial para injetar US$592,6 bilhões em recursos para o setor até 2050, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bioinovação. O estudo aponta ainda que, em termos ambientais, o incremento da bioeconomia pode auxiliar na redução dos gases do efeito estufa em 28,9 milhões em 30 anos – o equivalente a 65% das emissões do país.
No entanto, as mudanças no uso da terra representam a maior parte das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. De acordo com dados mais recentes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 38% das emissões líquidas brasileiras vêm do setor de Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF, na sigla em inglês). Por isso, políticas de preservação florestal são cruciais para que o país atinja suas metas climáticas, segundo dados da 6ª edição das Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil.
O avanço da fronteira agrícola é um dos fatores responsáveis pelos índices crescentes de desmatamento no país. Mais de 100 milhões de hectares de vegetação nativa localizadas em propriedades rurais em todo o país são passíveis de conversão para atividades antrópicas. O desmatamento contribui para a perda de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, além de aumentar as emissões de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas.
O aumento da população mundial e o risco das emergências climáticas impõem um desafio à agricultura: segundo dados da ONU, elevar a oferta de alimentos em 50% até 2050 aumentando a eficiência na utilização dos recursos naturais é o passo mais importante para atingir os objetivos ambientais e de produção alimentar, garantindo a conservação da vegetação nativa e a manutenção da biodiversidade.
Investimentos em sistemas alimentares que promovam a inclusão social, a segurança alimentar e a redução das emissões de GEE são condições essenciais para uma transição verde no país. Projetos que promovam a restauração de ecossistemas e a conservação da floresta em pé, e mecanismos financeiros que fomentem a bioeconomia, o incremento da captura de carbono e o aumento da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento socioambiental sustentável.
Neste cenário, a bioeconomia é uma ferramenta estratégica para a construção de um modelo de produção pautado em recursos biológicos, gerando benefícios econômicos, ambientais e sociais para a sociedade. Ao promover o uso de recursos renováveis, a bioeconomia contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a preservação da biodiversidade. Na pauta social, a bioeconomia promove a inclusão das comunidades quilombolas e ameríndias na cadeia produtiva, alavancando a economia e a cultura locais.
A amplitude do conceito é proporcional ao desafio na construção de soluções para a promoção da biodiversidade. Em qualquer uma das áreas de aplicação, a bioeconomia requer investimentos em pesquisa e desenvolvimento, o fomento a soluções sistêmicas, a criação de políticas públicas capazes de regulamentar o mercado, viabilizando o crescimento econômico aliado à conservação da biodiversidade.
Se no setor público o Brasil se esforça para assumir a liderança da pauta com a construção dos dez princípios de alto nível sobre bioeconomia e a construção do Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, na iniciativa privada o desafio climático pode ser revertido em oportunidade de negócios com investimentos integrados em serviços e soluções que façam do capital natural um valioso ativo ambiental.
Com alto potencial inovador, a bioeconomia pode estimular a adoção de soluções de inovação advindas da ciência e da tecnologia, como biotecnologia, inteligência artificial e blockchain, movimentando a indústria e gerando novas oportunidades de emprego e negócios. Nesse sentido, as startups possuem uma oportunidade única de criar negócios disruptivos e de impacto positivo para a sociedade e para o meio ambiente.
O mercado mundial de green techs, startups com foco em soluções sustentáveis, pode chegar a US$74,64 bilhões até 2030, crescimento de sete vezes em uma década (Relatório da Allied Market). O potencial de novos negócios é proporcional às reservas naturais contidas no território. Só na Amazônia, região de maior biodiversidade do mundo, estima-se que a economia verde, ou de baixo carbono, dê um salto e amplie de forma exponencial a participação da região no Produto Interno Bruto, que hoje é de apenas 8%.
No entanto, a região Amazônica responde por 5% do mercado de startups do país, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Esse cenário evidencia o grande potencial ainda a ser explorado para consolidar a bioeconomia como pilar de uma economia verde e sustentável. E ainda há de se considerar o desafio de descentralizar a bioeconomia – e suas inovações – da Amazônia e dar valor a tantos outros riquíssimos biomas brasileiros, como a Caatinga e o Cerrado.
Portfólio para Bioeconomia
No Quintessa, a bioeconomia é um dos ativos que valorizamos e construímos programas, seja através da seleção e aceleração de startups de bioeconomia ou na mobilização e engajamento de grandes empresas como demanda para o setor.
Estudo recente publicado em setembro de 2024 pela Climate Policy Initiative aponta que, no Brasil, a bioeconomia recebeu mais de R$16,6 bilhões/ano em recursos financeiros no período de 2021 a 2023. Desse total, o setor privado foi a principal fonte de financiamento, com R$9,43 bilhões aportados por grandes corporações e pouco mais de R$2 bilhões provenientes de instituições financeiras – representando 69% do total de recursos disponíveis no país. O setor público contribuiu com R$3,32 bilhões, considerando investimentos do governo federal, dos governos estaduais e do BNDES.
Acreditamos que a bioeconomia é um dos principais motores da economia de impacto, com potencial para gerar um faturamento industrial adicional de US$284 bilhões até 2050, segundo projeções da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI). Para transformar esse potencial em realidade, articulamos programas, recursos e parcerias estratégicas entre setor privado, startups e múltiplos atores.
Ao longo dos últimos 5 anos, construímos um robusto portfólio de projetos de aceleração em favor de programas de bioeconomia que contribuem para a adaptação às mudanças climáticas. Em 2022, apoiamos a construção da tese de atuação da Plataforma Parceiros da Amazônia (PPA) com a definição de teses temáticas, dentre elas a bioeconomia, e o mapeamento de iniciativas que apoiam organizações de impacto atuantes no bioma amazônico.
Pela terceira vez consecutiva, desde 2022, somos os executores do programa 100+ Labs Brasil, uma iniciativa de inovação aberta com impacto da Ambev. Na edição 2023-2024, o programa foi correalizado pela PPA e USAID, com um foco especial na biodiversidade amazônica. Sete startups implementaram projetos-piloto com a Ambev, entre elas a Apoena, que utilizou aditivo de coco babaçu para a redução de consumo de combustível em veículos da frota da empresa, em São Luís, no Maranhão, com redução de até 8% no consumo de combustível e, portanto, das emissões.
No mesmo período, fomos parceiros do Fundo Vale no Desafio Floresta e Clima, colaborando com as definições estratégicas de tema, e aceleração de cinco iniciativas com potencial para resolver desafios do ecossistema de carbono florestal na Amazônia.
E, em 2023, em parceria com PPA, WWF e WRI, executamos a Aceleradora de Negócios Florestais, em que aceleramos 20 negócios florestais da cadeia de restauração e agrofloresta na Mata Atlântica e selecionamos cinco soluções para mentoria e acompanhamento em campo. A proposta foi construir uma trilha de conhecimento e capacitação de ações de restauração para empreendedores do bioma.
Atualmente, atuamos em parceria com o BNDES na realização do maior programa para negócios de impacto do Brasil, o BNDES Garagem. De 2024 a 2028, a proposta é acelerar 400 negócios em múltiplas áreas do desenvolvimento socioambiental do país, entre elas economia verde e descarbonização – tema de 50% das soluções inscritas no primeiro ciclo do programa.
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