O Fórum Econômico Mundial, é um evento anual que ocorre desde 1971, é o palco onde políticos e representantes de empresas detalham suas ações para contribuir com o futuro global. Este ano o fórum está em sua 54ª edição e foi realizado entre os dias 15 a 19 de janeiro em Davos, Suíça.
O tema escolhido desta edição foi a “Reconstrução da Confiança”, com cerca de 200 palestras e apresentações de relatórios e opiniões críticas sobre o futuro das nações, líderes mundiais e executivos empresariais abordaram questões críticas para o futuro global, com destaque para três principais temas: Preocupações Climáticas, Impactos das Mudanças Climáticas na Saúde Mundial e o Futuro da Inteligência Artificial.
Reunimos aqui as três principais temáticas das discussões em Davos:
01. Preocupações Climáticas
Assim como nas edições anteriores, a crise climática dominou a maior parte dos painéis e das conversas do fórum em Davos. pós os acontecimentos de seus efeitos mais evidentes em 2023, essas preocupações aumentaram acendendo um sinal vermelho para os líderes mundiais e executivos que entenderam que a colaboração entre governos, empresas e comunidades é fundamental para uma criar uma solução mais sistêmica e colaborativa para os efeitos da emergência climática.
Em alguns discursos, líderes admitiram que os esforços para lidar com os efeitos das mudanças climáticas têm sido insuficientes. A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que é preciso compromissos mais ambiciosos no clima, e enfatizou a importância de se cumprir as promessas nessa frente.
Um estudo apresentado realizado pelo banco UBS alertou que anos de negligência deixaram uma lacuna de investimentos na biodiversidade e nas soluções ligadas à natureza. Além de ressaltar que o capital privado é essencial para fechar esse gap, que chega a US$700 bilhões por ano.
Já o relatório de Riscos Globais 2024 lançado pelo Fórum destacou que 5 dos 10 principais riscos nos próximos 10 anos são referentes às questões ambientais: eventos climáticos extremos, mudança crítica nos sistemas terrestres, perda de biodiversidade e colapso do ecossistema, escassez de recursos naturais e poluição.
Os líderes sentiram uma urgência imperativa em relação à necessidade de concretizar ações. Além disso, debateram estratégias para desenvolver uma abordagem sistêmica de longo prazo, visando atingir os objetivos de um mundo neutro em carbono e benéfico para a natureza até o ano de 2050.
“Não podemos continuar a basear os futuros modelos de negócios no esgotamento da natureza e dos recursos” disse Jesper Brodin, Diretor Executivo, Grupo Ingka (IKEA). As empresas que não se adaptarem ficarão no esquecimento, acredita ele.
02. Um olhar para os impactos das mudanças climáticas na saúde Mundial
A incapacidade de agir em relação às alterações climáticas não tem implicações apenas para o planeta. Por esse motivo as discussões sobre as mudanças climáticas no fórum não se concentram apenas na natureza e na economia global, mas também nas consequências que estão diretamente ligadas na saúde humana e no sistema de saúde global, causados pelo aumento das temperaturas do planeta.
“A crise climática é uma crise de saúde”, disse Vanessa Kerry, Cofundador e CEO, Seed Global Health.
O relatório “Quantificando o Impacto das Mudanças Climáticas na Saúde Humana”, lançado pelo fórum sobre o impacto das mudanças climáticas investiga seis categorias principais de eventos climáticos que impulsionam impactos negativos na saúde: inundações, secas, ondas de calor, tempestades tropicais, incêndios florestais e aumento do nível do mar. Essas mudanças podem causar cerca de 14,5 milhões de mortes e gerar perdas econômicas globais de US$12,5 trilhões até 2050.
Uma inquietação adicional ressaltada é que as mudanças climáticas intensificam a desigualdade global em saúde, impactando de forma desproporcional segmentos mais vulneráveis da população, tais como mulheres, jovens, idosos, indivíduos de baixa renda e comunidades de difícil acesso. Esta disparidade é particularmente acentuada nas regiões da África e do Sul da Ásia.
03. Futuro da Inteligência Artificial
Os gigantes da tecnologia como Google, Meta e Microsoft e executivos como o fundador do Chat GPT, OpenAI, compareceram aos painéis oficiais e as inúmeras reuniões informais com políticos e líderes empresariais, com debates sobre impacto no da tecnologia no mercado de trabalho, segurança nas eleições, além de ressaltar a necessidade de regulamentação das tecnologias para proteger os usuários.
O mercado de trabalho emergiu como um dos tópicos centrais durante as discussões no fórum. Os economistas enfatizaram a ascensão da inteligência artificial generativa, prevendo-a como uma tecnologia potencialmente “comercialmente disruptiva” com impactos no cenário ocupacional. No entanto, destacaram que essa evolução tecnológica não apenas transformará o mercado de trabalho, mas também acarretará benefícios significativos para as economias. Entre esses benefícios, antecipam-se o aumento da eficiência na produção e a promoção da inovação nos próximos anos.
Sam Altman, CEO da OpenAI, destacou em seu discurso a importância de envolver todas as pessoas no desenvolvimento da inteligência artificial. Ele ressaltou que, apesar do avanço dessa ferramenta, ela não substituirá a necessidade fundamental do entendimento mútuo entre os seres humanos. Altman enfatizou a ideia de que a IA deve ser uma extensão das capacidades humanas, promovendo colaboração e complementaridade, em vez de suplantar o papel humano no processo de compreensão e tomada de decisões.
O Brasil em Davos
O Brasil foi amplamente mencionado durante o evento como protagonista na agenda ambiental. As poucas autoridades que representaram o país em Davos concentraram seus discursos nas pautas de sustentabilidade. Apesar da participação de mais de 2,8 mil pessoas ao longo da semana, observou-se uma presença relativamente limitada de empreendedores brasileiros no evento.
Ana Sarkovas, co-fundadora da Ecoa Capital e participante de Davos, enfatizou a existência de uma vasta oportunidade para conectar empreendedores brasileiros com capital institucional, tanto filantrópico quanto de investidores. “Vejo o Brasil com uma grande participação como solução”, ressaltou.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, representou o Brasil nesta edição do fórum. Em seus discursos, defendeu uma transição energética mais ágil no país, destacou a importância do desenvolvimento sustentável na Amazônia e reforçou a necessidade de investimentos para a adaptação do Brasil às mudanças climáticas, especialmente no regime de águas e rios da região amazônica.
Sobre a transição para energias renováveis, Marina Silva afirmou: “Temos uma decisão corajosa de colocar na agenda a transição para o fim do uso de combustíveis fósseis. Isso significa acelerar as energias renováveis, triplicando os investimentos de forma robusta.”
Ana Sarkovas complementou, enfatizando que as novas tecnologias serão fundamentais para essa transição, seja no sistema alimentar ou na transição energética, representando oportunidades significativas de investimento.
Sarkovas observou que, apesar da presença limitada de empreendedores brasileiros, houve uma forte representação de startups europeias apresentando soluções tecnológicas para desafios climáticos e preservação da natureza –
A ministra Silva mencionou a promessa do presidente Lula de zerar o desmatamento até 2030 e o compromisso de não explorar petróleo na Amazônia. Ela também ressaltou que a presidência do Brasil no G20 até novembro de 2024 oferecerá oportunidades para avanços significativos sobre o tema ambiental.
Análise Geral:
Em linhas gerais, as discussões do fórum apontam para um reconhecimento coletivo da necessidade de abordar desafios globais de maneira colaborativa e sustentável. Destaca-se a importância da inclusão e da busca por soluções inovadoras para impulsionar o crescimento econômico e enfrentar questões cruciais, como as emergências climáticas, em escala mundial. No entanto, o impacto efetivo dessas discussões dependerá da implementação concreta de políticas e iniciativas resultantes, envolvendo governos, empresas e a sociedade civil.
O site do Fórum Econômico Mundial disponibiliza todas as sessões gravadas e resumos em texto, porém, estão disponíveis apenas em inglês.