Como o modelo dos negócios de impacto promove avanços sociais e ambientais
Quando falamos sobre o tema, podemos abordá-lo de diferentes formas. O “COMO” vamos explorar em outro momento, bem como o conceito do propósito de uma organização. Convido aqui a olharmos para o “PARA QUÊ” e “O QUÊ” de cada empresa, aprofundando sob um determinado prisma: o conceito de negócios de impacto.
Negócios de impacto são, segundo a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, que têm a intenção clara de endereçar um problema socioambiental por meio de sua atividade principal (seja seu produto/serviço e/ou sua forma de operação).
Fala-se em Setor 2.5, uma referência ao que seria uma união entre características do segundo setor, de empresas privadas e marcado pelo foco em retorno financeiro, e do terceiro setor, de organizações sem fins lucrativos e marcado pelo foco em geração de impacto socioambiental.
Juridicamente, os negócios de impacto não existem sob uma figura própria, podendo assumir diferentes formatos legais, como de empresa, associação, fundação, ou cooperativa.
Algumas características dos negócios de impacto apresentadas pelo Quintessa, a partir de inspiração no documento da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, são:
- A intencionalidade de resolução de um problema social e/ou ambiental
- A geração de impacto socioambiental e a sustentabilidade financeira devem estar presentes na atividade principal da organização.
- O compromisso com o monitoramento do impacto socioambiental que gera na sociedade
- A busca de retorno financeiro, operando pela lógica de mercado
Quando o empreendedor de um negócio de impacto ganha, a sociedade ganha com ele.
Exemplos de negócios de impacto podem ser encontrados em variadas áreas de atuação, como em soluções para melhoria do acesso à saúde, moradia, alimentação, serviços financeiros, justiça e educação de qualidade; criação de oportunidades de emprego e geração de renda; inclusão de pessoas na sociedade independente de cor, raça, gênero, deficiência, nacionalidade, opção sexual, religião, origem econômica; preservação do patrimônio ambiental e cultural; cidades inteligentes e soluções para a mobilidade urbana; garantia de liberdade política, empoderamento e engajamento dos cidadãos; promoção de um governo mais democrático, eficiente e transparente, entre outros.
Compartilho aqui alguns casos.
A 4you2 é uma escola que oferece o ensino de inglês de qualidade e acessível a pessoas das classes CDE. Com unidades em regiões periféricas de São Paulo, sua mensalidade chega a ser quatro vezes mais barata que seus concorrentes.
Além disso, seus professores são estrangeiros que moram em casas de família nas comunidades, promovendo um intercâmbio cultural com os alunos. Com o aprendizado do inglês, os alunos conquistam o acesso a diversos conteúdos educacionais e oportunidades de trabalho. Quando a 4y2 ganha com as mensalidades, mais pessoas da base da pirâmide ganham tendo acesso a um ensino de línguas de qualidade.
A Hand Talk desenvolveu uma tecnologia que traduz o português para a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Há cerca de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva no Brasil e aproximadamente 70% delas apresentam dificuldade na compreensão do português (imagine morar no seu país, mas não entender boa parte do que está escrito nos meios de comunicação?).
Além de um aplicativo gratuito, eles oferecem serviços como o tradutor de sites, tradutor de vídeos, QRCode e totens para espaços públicos. Quando a Hand Talk ganha com os serviços prestados, mais pessoas com deficiência auditiva ganham tendo acesso a conteúdos antes incompreensíveis.
O Instituto Muda promove a educação ambiental entre moradores e funcionários de condomínios, além de coletar resíduos recicláveis e doar o material para cooperativas de catadores, gerando renda para estes grupos. Sua receita advém da mensalidade que os condomínios pagam, tendo a destinação correta de seu lixo.
Hoje o lixo é um grande desafio das cidades, principalmente de São Paulo. Quando o Instituto Muda ganha com as mensalidades, mais pessoas ganham com as melhorias ambientais advindas do correto tratamento dos resíduos.
Assim, fica aqui a reflexão: no seu negócio, quem ganha quando você ganha?
Anna de Souza Aranha
Publicado originalmente em Pequenas Empresas & Grandes Negócios