No primeiro semestre deste ano, o ecossistema brasileiro de startups realizou 134 M&As (fusões e aquisições), e os investimentos de empresas nas startups têm crescido. Companhias como o Magalu, que adquiriu 22 startups nos últimos 18 meses, mostram como o investimento ou a compra desse tipo de empresa é uma estratégia cada vez mais presente para acelerar a inovação nas grandes corporações, seja para oferta de novos produtos e serviços, aumento de eficiência e celeridade na solução de desafios ou para entrada em novos mercados, entre outros motivos.
Com a relevância crescente do tema ESG, os investimentos, fusões e aquisições movimentaram o campo das startups de impacto positivo.
Além disso, a movimentação também é impulsionada pela ampliação da prática de inovação aberta e pelo fato das startups estarem integradas à agenda de novos negócios das corporações, complementando e trazendo inovação para seu portfólio de produtos e serviços.
Vimos recentemente a startup Eduqo ser 100% adquirida pela Arco Educação por R$ 30 milhões, após quadruplicar de tamanho na pandemia com seu sistema digital de gestão de aprendizagem personalizada. A Arco já havia adquirido em 2020 a startup de impacto Nave à Vela, que leva a cultura maker e o currículo de inovação e desenvolvimento de competências socioemocionais para as escolas, mas não teve o valor divulgado.
As duas startups foram aceleradas pelo Quintessa, aceleradora pioneira no ecossistema de impacto. O Quintessa também revelou outros casos, como o da Boomera, que é referência em gestão de resíduos e economia circular, e que teve 50% adquiridos pela Ambipar em junho deste ano. A Ambipar não abriu o valor investido, mas noticiou grande sinergia com o trabalho de transformação dos resíduos plásticos pós-consumo em matéria-prima e com a rede de mais de 500 cooperativas de catadores e 8 mil cooperados da startup.
Ainda no segmento de economia circular, temos o caso da GrowPack, que desenvolveu uma tecnologia para embalagens biodegradáveis feitas a partir de resíduos agrícolas, e que recebeu aporte da Ambev como capital semente e compromisso de comprar seus produtos em grande quantidade, trazendo tração comercial e escala na esteira das metas de sustentabilidade da gigante de bebidas.
No meio financeiro, não só as fintechs estão nos holofotes. O Nubank anunciou um aporte na {Parças}, startup que ensina programação para ex-detentos e pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social com o objetivo de inclusão no mercado de trabalho. Parte dos compromissos com diversidade do banco digital, a expectativa da startup é de que em 15 anos todas as penitenciárias brasileiras sejam uma célula de transformação e qualificação profissional.
No mundo das healthtechs, a Notre Dame anunciou um investimento de R$ 10 milhões na NeuralMed, startup que oferece soluções para otimizar o tempo de atendimento e a assertividade das decisões médicas por meio de Inteligência Artificial. Temos ainda o caso da Techbalance, startup que desenvolve soluções para a prevenção, cuidado e acompanhamento de risco de quedas e lesões, que recebeu R$ 2 milhões da Shift, empresa especializada em tecnologia para medicina diagnóstica e preventiva.
É certo que os investimentos e aquisições envolvendo startups de impacto tiveram um boom no último ano, “Mas, já havia um movimento acontecendo por conta da ampliação da prática da inovação aberta e pelo amadurecimento da visão das empresas para a sustentabilidade e para novos negócios mais inovadores e conectados ao futuro”_, aponta Anna de Souza Aranha, diretora do Quintessa. “Em 2018, a E-moving, startup de aluguel de bicicletas elétricas, recebeu aporte da Movida, trazendo para o portfólio da empresa de aluguéis de carros uma solução sustentável, e em 2019, a Courri, que é pioneira na logística urbana com bicicletas, foi adquirida pelo grupo B2W (Lojas Americanas), trazendo uma solução mais eficiente e limpa para sua operação, por exemplo”.
Esse movimento mostra que as startups estão atingindo um bom nível de maturidade, explica Anna. “Para receber investimento, elas precisam estar preparadas para um processo de diligência e avaliação. O que temos visto não são casos isolados, e sim um movimento relevante do mercado, que está reconhecendo a parceria com as startups de impacto como uma grande oportunidade de negócio”, afirma.
O Quintessa já mapeou mais de 4 mil startups de impacto no Brasil e tem se mostrado um celeiro dos grandes cases do setor no Brasil. Das startups mencionadas nos casos recentes de M&As e investimentos, apenas a GrowPack não faz parte do portfólio da aceleradora, já a Ambev, investidora da startup, é parceira do Quintessa no programa de aceleração corporativa.
Para Anna, há diversos caminhos para se implementar de forma unificada as agendas de inovação e sustentabilidade, e o histórico já mostra que a conexão com startups de impacto por meio de inovação aberta, programas de aceleração, contratação de suas soluções, investimentos e aquisições têm trazido grandes resultados, promovendo inovação, novos negócios e acelerando as metas e compromissos em ESG das empresas.
“Com o avanço das agendas de inovação, novos negócios e ESG dentro das grandes empresas, a tendência é que os M&As de impacto também cresçam. Por isso, é importante preparar os empreendedores dos negócios de impacto para isso, como temos feito nos últimos anos, e facilitar e qualificar sua conexão com as grandes companhias que vem trabalhando na transformação para a nova realidade que desejamos construir”, conclui a executiva.