Chegamos ao final do primeiro trimestre de 2023, ano que começou com notícias pouco animadoras relacionadas à economia mundial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um relatório, ainda no final de 2022, afirmando para o G20 que as perspectivas para o futuro da economia global “são sombrias”.
Os desafios globais relacionados ao cenário de recessão, como a invasão russa, na Ucrânia afetam todos os setores da economia no mundo. E não deixam também de afetar o funcionamento e operação de grandes empresas e corporações, que entendem esse contexto e tendem a agir com mais cautela com seus orçamentos.
Temos visto nos últimos anos que a agenda ESG ganhou força surfando em uma onda impulsionada pela pandemia.
Na época, empresas precisaram, de uma maneira ou de outra, olhar para os aspectos sociais e ambientais relacionados à sua atividade principal e, de certa forma, tentaram também diminuir os impactos negativos externos gerados pela operação.
Mas então como podemos garantir que o ESG não seja deixado de lado em tempos difíceis e mostrar que a pauta realmente criou raízes firmes que aguentam passar por uma recessão?
É claro que, em um cenário de crise, um dos primeiros planos de ação é tentar reduzir os custos para que a empresa continue operando sem grandes prejuízos. Por isso, acredito que podemos ver diferentes cenários neste contexto.
Historicamente, ações relacionadas a impacto positivo, sustentabilidade e ESG foram comumente vistas apenas como custo, mas, com a atenção dada ao tema nos últimos anos, quero acreditar que isso tenha mudado.
E é exatamente diante de cenários como este que poderemos observar durante o ano se as empresas continuam com orçamentos destinados às ações de impacto ou se veremos esses orçamentos sendo cortados por conta da recessão, demonstrando, dessa forma, que o mercado não entendeu a potencialidade de encarar pautas ESG de forma estratégica.
Já foi comprovado que companhias com propósito têm melhor retorno e que gerar impacto não significa sacrificar lucro —e é assim que muitas empresas vêm pensando e se comportando em relação ao mercado.
Um exemplo é quando emitem dívidas financeiras relacionadas a metas sociais e ambientais, estratégia que têm se mostrado tendência no mercado internacional e também ganhou robustez no Brasil ano passado.
Esse comprometimento financeiro e de médio ou longo prazo demonstra que as empresas firmaram compromissos de maneira séria com a pauta ESG, perpetuando a cultura de que é necessário ter um olhar estratégico e de longo prazo para as ações que se propuseram a fazer.
Vivemos em um mundo com restrições de recursos naturais e risco climático que, ano após ano, tem se agravado. E, justamente por isso, mobilizado a agenda de lideranças globais, pressão de consumidores, além de novas regulamentações.
Grandes empresas que lançam novos produtos, projetos e iniciativas precisam estar alinhadas a esse novo contexto, sob risco de retaliação do mercado e má performance financeira dos seus lançamentos e atuações.
Esse olhar de impacto transversal à atividade da empresa e fortemente conectado à estratégia deveria ser o novo modus operandi, independente de recessão econômica. Até porque é justamente esse olhar que pode trazer inovações que farão com que a empresa saia até mais fortalecida deste período.
Em um cenário de recessão, os problemas continuam e até se acentuam, ou seja, vão precisar de esforços para serem endereçados.
Dessa forma, principalmente para aquelas empresas que têm o impacto intrínseco na estratégia e enxergam a oportunidade de negócio, os tempos difíceis estimulam criatividade, parcerias e inovação.
Por isso, acredito que 2023 será o ano em que saberemos se a pauta entrou de fato de maneira estratégica nas discussões das lideranças. Ou se é apenas uma onda onde foi possível surfar nos últimos dois anos.
Este texto foi publicado originalmente na coluna da Co-CEO do Quintessa, Gabriela Bonotti, na Folha de São Paulo.