O título do texto vem de uma pergunta recorrente que ouvimos em reuniões com lideranças empresariais. De início, nossa resposta é: sim. Não só é possível, como em muitos casos, recomendado.
O termo inovação aberta surgiu através de uma pesquisa do americano Henry Chesbrough. O autor afirma que o ambiente de negócios possui uma abundância de conhecimento que precisa ser distribuído e aproveitado. Logo, o ambiente interno e externo estão interconectados, visando facilitar o fluxo de conhecimento. A empresa pode, ao mesmo tempo, oferecer suas inovações para outras organizações e utilizar recursos externos para inovar, em um processo de colaboração com universidades, laboratórios, outras empresas e startups, por exemplo.
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum que empresas tenham programas de inovação aberta, se conectando com soluções de startups. Grande parte dos programas ainda são focados apenas em eficiência e melhorias internas, como adoção de novas tecnologias na operação, atendimento ao cliente e agilidade de processos – muito na linha de transformação digital e eficiência operacional.
Quando apresentamos a ideia de criarmos uma iniciativa de inovação aberta focada na geração de impacto socioambiental positivo, muitas vezes as empresas questionam o fato por já possuírem internamente um outro programa de inovação aberta.
O que vemos é que a inovação aberta é um meio, um caminho, de se avançar nas agendas estratégicas, resolver problemas, trazer inovação para a empresa. Ou seja, deve ser vista uma abordagem transversal para as agendas de negócio.
Assim, o que vamos mostrar neste texto é a possibilidade de coexistirem mais de um programa na empresa, com objetivos distintos e até com parceiros externos diferentes e executados por áreas diferentes.
Os programas de inovação aberta podem ter diferentes formatos, temáticas e objetivos, ilustrados na matriz abaixo e a combinação dos três elementos pode gerar diversas possibilidades.
Startups de impacto vs ‘tradicionais’
Uma das possibilidades de coexistência de iniciativas é ter dois programas que se relacionam com startups, cada um com um objetivo distinto, bem como temáticas distintas. Para ilustrar, trazemos o caso da CPFL Energia.
A CPFL possui o programa CPFL Inova, realizado pela área de inovação da empresa. O objetivo do programa é formar parcerias comerciais com startups que oferecem soluções em áreas internas como eficiência operacional, relacionamento com cliente, transformação digital e smart cities. A iniciativa tem bastante foco em identificar negócios que utilizam tecnologias como blockchain, internet das coisas, realidade aumentada, robotização, inteligência artificial, machine learning e big data.
Em 2020, a CPFL lançou em parceria com o Quintessa, o programa de inovação aberta chamado CPFL na Comunidade. O objetivo foi encontrar startups de impacto com soluções para serem implementadas nas comunidades em que a companhia atua. O programa foi criado junto com a área de eficiência energética, com foco explícito nesta temática e junto a esse público.
A questão, no novo programa, foi promover eficiência energética e relacionamento com os clientes de baixa renda da empresa de uma forma inovadora e escalável. Selecionamos startups com soluções em educação financeira (com instruções sobre a conta de energia e dicas de economia), empoderamento feminino (capacitação de mulheres em elétrica, para posterior geração de renda) e economia circular (capacitação para upcycling dos uniformes de eletricistas).
A coexistência do novo programa com o CPFL Inova foi não só possível como benéfica, trazendo a base de inscritos em programas anteriores para identificar startups com possíveis sinergias no novo programa, como também o conhecimento prévio da equipe do Inova sobre avaliação, seleção e relacionamento com startups na empresa. É muito comum, ao entrarmos em empresas junto às áreas de sustentabilidade e/ou responsabilidade social, trazermos a área de inovação como parceira durante a execução do programa, principalmente durante a etapa de seleção das startups.
Startups e demais atores
Na Braskem também existe a coexistência de iniciativas de inovação aberta, mas neste caso, o Braskem Labs se relaciona com startups de impacto, enquanto outras se relacionam com universidades, outras empresas e sociedade civil.
O Braskem Labs se relaciona diretamente com o propósito da empresa, que é utilizar a inovação para alcançar o desenvolvimento sustentável, melhorando a vida das pessoas e desenvolvendo soluções sustentáveis a partir da química e do plástico.
Ao mesmo tempo, existe um outro programa na companhia. Por mais que o Braskem Labs busque, em uma das categorias, soluções para embalagens mais sustentáveis, a Braskem também busca inovações na temática de embalagens por meio do ‘Desafio Design’ (além de muito investimento em P&D internamente).
O desafio tem formato de Hackathon, e reúne profissionais de Design para criarem, em três dias, soluções em embalagens inovadoras e mais sustentáveis para clientes da Braskem, como a Suvinil e O Boticário.
Diferentes temáticas de impacto na empresa
A Ambev também possui diferentes formatos de inovação aberta para as temáticas estratégicas da empresa. Na área de Sustentabilidade, a Aceleradora 100+ é totalmente conectada às metas de 2025 da Ambev: mudanças climáticas, embalagem circular, agricultura sustentável, gestão de água e ecossistema empreendedor.
O programa, realizado com o Quintessa, busca startups de impacto para implementarem pilotos de suas soluções que podem ajudar a companhia a alcançar suas metas estratégicas.
Porém, na área de inovação aberta do site da Ambev, outros desafios são lançados para todos que quiserem contribuir. Recentemente a empresa promoveu, por exemplo, um concurso de ideias para ajudar a Ambev a disseminar a temática do consumo consciente de álcool, remunerando e mentorando os vencedores para colocarem a ideia em prática. Uma temática que também é um compromisso importante de geração de impacto positivo da empresa..
Tipos de programas complementares
É possível ainda, ter iniciativas focadas no mesmo objetivo ou temática, mas com formatos diferentes, como aceleração de startups e implementação de pilotos. O programa Ecco Comunidades, realizado pelo Quintessa em parceria com o Instituto BRF, teve duas etapas muito complementares: a aceleração de 8 startups, e depois, a escolha de 5, entre elas, para implementarem pilotos nos territórios de atuação da empresa. Falamos mais sobre formatos de programas neste texto.
Explore as possibilidades
Olhar para as temáticas estratégicas, os possíveis formatos de atuação e o objetivo da iniciativa é um bom indicativo de como começar. Várias combinações são possíveis, tendo uma única iniciativa que centraliza diversas temáticas, por exemplo, ou tendo uma iniciativa liderada por cada área estratégica da empresa, por exemplo. É como fazer uma análise combinatória das três colunas da matriz que ilustramos acima.
Temos visto a prática de criar uma temática de ‘impacto’ dentro de um programa mais abrangente, sem muitos detalhamentos. Vale o cuidado para não se tornar somente mais uma categoria, sem estar alinhada aos objetivos estratégicos da empresa, ao não se especificar do que se trata: Impacto com foco em eficiência energética da operação? Impacto com foco no benefício do território onde tem sede da fábrica? E tantos outros focos possíveis.
Por isso, criar um programa de inovação aberta com foco específico em impacto positivo pode ser uma das formas de garantir o cumprimento das metas estratégicas, como o exemplo da Aceleradora 100+ da Ambev, que citamos acima.
Para finalizar, retomamos uma fala muito presente aqui no blog do Quintessa: que um programa de inovação aberta – seja com startups de impacto ou não – deve partir sempre de uma visão bem aprofundada sobre os objetivos estratégicos da empresa e da área que irá realizar a iniciativa.
No Quintessa, nosso foco é conectar startups de impacto para quatro principais objetivos das empresas:
Trazer inovação e novos negócios;
Melhoria de desempenho em ESG e sustentabilidade;
Responsabilidade social e filantropia corporativa;
Gerar pipeline qualificado para investimento e CVC.
Para entender como a atuação do Quintessa pode ser complementar a outra iniciativa de inovação aberta da sua empresa, entre em contato conosco para uma primeira conversa.